terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Um Dia de Merda


Aeroporto de Buenos Aires, 15:30. Pequeno mal-estar causado por uma cólica intestinal, mas nada que uma urinada e um peidinho não aliviasse. Mas, atrasado para pegar o ônibus que o levaria para o outro aeroporto da cidade, de onde partiria o vôo para Córdoba, resolveu segurar as pontas. "Afinal de contas, são só uns 15 minutos de viagem, chegando lá, tenho tempo de sobra para dar aquela mijadinha esperta tranqüilo". O avião só saia as 16:30. Entrando no Ônibus, sem sanitários, sentiu a primeira contração e tomou consciência de que sua gravidez fecal chegara ao nono mês e que faria um parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do outro aeroporto.
Virou para o amigo que o acompanhava e sutil, falou:
-"Cara, mal posso esperar para chegar na merda do aeroporto porque preciso largar um barro."
Nesse momento, sentiu um urubu beliscando sua cueca, mas botou o esfíncter pra trabalhar e este segurou a onda. O ônibus nem tinha começado a andar quando para seu desespero, uma voz em castelhano disse pelo auto falante:
-"Senhoras e senhores, nossa viagem entre os dois aeroportos levara em torno de 1 hora".
Ai o urubu ficou maluco querendo sair a qualquer custo! Fez um esforço hercúleo para segurar o trem merda que estava para chegar na estação cú a qualquer momento. Suava em bicas. Seu amigo percebeu e, como bom amigo que era, aproveitou para tirar o sarro. O alivio provisório veio em forma de bolhas estomacais indicando que pelo menos por enquanto as coisas tinham se acomodado.
Tentava se distrair vendo a paisagem mas só conseguia pensar em um banheiro, não com uma privada, mas com um vaso sanitário. Tão branco e tão limpo que alguém poderia botar seu almoço nele. E o papel higiênico então: branco e macio e com textura e perfume e -Ops! Sentiu um volume almofadado entre seu traseiro e o assento do ônibus e percebeu consternado que havia cagado. Um coco solido e comprido daqueles que dão orgulho de pai ao seu autor. Daqueles que da vontade de ligar pros amigos e parentes e convida-los a apreciar, na privada, tão perfeita obra: Dava pra expor na bienal. Mas sem duvida, não nesse caso.
Olhou para o amigo, procurando um pouco de solidariedade, e confessou sério:
-"Cara, caguei."
Quando o amigo parou de rir, uns cinco minutos mais tarde, aconselhou-o a ficar no centro da cidade, escala que o ônibus faria no meio da viagem, e que se limpasse em algum lugar. Mas ele resolveu que ia seguir viagem, pois agora estava tudo sob controle. "Foda-se, me limpo no aeroporto, "-pensou- "Pior que isso não fico".
Mal o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou forte. Ele arregalou os olhos, segurou-se na cadeira mas não pode evitar e sem muita cerimonia ou anunciação, veio a segunda leva de merda. Desta vez como uma pasta morna.
Foi merda pra todo que e lado, borrando, esquentando e melando a bunda, cuecas, barra da camisa, pernas, panturrilhas, calcas, meias e pés. E mais uma cólica anunciando mais merda, agora liquida, das que queimam o fiofó do freguês ao sair rumo a liberdade. E depois um peido tipo bufa, que ele nem tentou segurar, afinal de contas o que era um peidinho pra quem já estava todo cagado.
Já o peido seguinte foi do tipo que pesa e ele se cagou pela quarta vez. Lembrou-se de um amigo que certa vez estava com tanta caganeira que resolveu botar modess na cueca, mas colocou com as linhas adesivas viradas para cima e quando foi tira-lo, levou metade dos pêlos do cú junto. Mas era tarde demais para tal artificio absorvente. Tinha menstruado tanta merda que nem uma bomba de cisterna poderia ajuda-lo a limpar a sujeirada.
Finalmente chegou ao aeroporto e saindo apressado com passos curtinhos, suplicou ao amigo que apanhasse sua mala no bagageiro do ônibus e a levasse ao sanitário do aeroporto para que ele pudesse trocar de roupas. Correu ao banheiro e entrando de box em box, constatou a falta de papel higiênico em todos os cinco. Olhou para cima e blasfemou:
-"Agora deu, né?"
Entrou no ultimo, sem papel mesmo, e tirou a roupa toda para analisar sua situação (que concluiu como sendo o fim do poço) e esperar pela mala da salvação com roupas limpinhas e cheirosinhas e com ela uma lufada de dignidade no seu dia. Seu amigo entrou no banheiro com pressa, tinha feito o "check-in" e ia correndo tentar segurar o vôo. Jogou por cima do box o cartão de embarque e uma maleta de mão e saiu antes de qualquer protesto. Ele tinha despachado a mala com roupas. Na mala de mão só tinha um pulôver de lã gola "V".
A temperatura em Buenos Aires era aproximadamente 35 graus. Desesperado, começou a analisar quais de suas roupas seriam, de algum modo, aproveitáveis. Suas cuecas, jogou no lixo. A camisa e mesma historia. As calcas estavam deploráveis e assim como suas meias, mudaram de cor tingidas pela merda. Seus sapatos estavam nota 3, numa escala de 1 a 10. Teria que improvisar. A necessidade é a mãe da invenção, então ele transformou uma simples privada em uma magnifica maquina de lavar. Virou as calcas do lado avesso, segurou-a pela barra, mergulhou a parte atingida na água e começou a dar descarga até que o grosso da merda se desprendeu.
Estava pronto para embarcar. Saiu do banheiro e atravessou o aeroporto em direção ao portão de embarque trajando sapatos sem meia, as calcas do lado avesso e molhadas da cintura ao joelho (não exatamente limpas) e o pulôver gola "V" sem camisa. Mas caminhava com a dignidade de um lorde. Embarcou no avião, onde todos os passageiros estavam esperando o "RAPAZ QUE ESTAVA NO BANHEIRO" e atravessou todo o corredor ate o seu assento ao lado do amigo que sorria. A aeromoça aproximou-se e perguntou se precisava de algo. Ele chegou a pensar em pedir uma gillete para cortar os pulsos ou 130 toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossa transbordante, mas decidiu não pedir: "NADA, OBRIGADO, EU SÓ QUERO ESQUECER ESTE DIA DE 'MERDA'!".

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